Tristeversário

(Introdução - ui, dilícia!) Hoje não é um bom dia para eu falar abobrinhas nem nada engraçadinho, então para aqueles que não têm interesse (ou saco) de ler coisas mais sérias, recomendo desde já pular o post de hoje. Depois não digam que eu não avisei! (/end introdução)

Esse ano, ao ver o início das propagandas sobre as Olimpíadas de Pequim, me senti extremamente incomodado. Mas especialmente hoje, 10 de março, não pude deixar de comentar a absurda ironia. Hoje é o aniversário da invasão do Tibete pela China - o 59° aniversário, aliás.

Nesses 59 anos de ocupação, o genocídio promovido pela China já matou mais de 1,2 milhão de tibetanos (o equivalente a 20% da população). O povo tibetano perdeu sua liberdade religiosa (lembrando: para o comunismo - e especialmente para o Mao - a religião é o ópio do povo), sua liberdade política e sua liberdade de expressão, além de qualquer um dos direitos civis mais básicos.

O idioma oficial é o Chinês (Mandarim) e nas escolas foi proibido o ensino do idioma e das tradições culturais tibetanas. Ser pego com uma bandeira do Tibete significa prisão e até mesmo execução. Entre as décadas de 60 e 70, o governo Chinês simplesmente destruiu mais de 6.000 monastérios - sobraram TREZE (13).

Na década de 80, quando o governo Chinês instituiu a "liberalização" do Tibete, os monges e monjas - utilizando recursos próprios - começaram a reconstrução de alguns templos. Isso iniciou um processo de revigoração da identidade tibetana, e o governo Chinês retaliou imediatamente, instituindo Lei Marcial. Em seguida, lançou a campanha "Strike Hard" (algo como "ataque forte") para reprimir qualquer movimento de resistência, implementando medidas como: baniram fotos do Dalai Lama (possui-las pode dar prisão); apoio ao Dalai Lama de qualquer forma é considerado "terrorismo" (com direito a detenção, prisão e tortura); e aulas obrigatórias de "re-educação" para Monges e Monjas, onde são forçados a jurar lealdade ao partido comunista, renunciar ao Dalai Lama e aceitar que o Tibete é parte da China.

Além disso, como o Dalai Lama conseguiu escapar para a Índia, o governo chinês foi atrás de outros líderes budistas. O caso mais notório é o do Panchen Lama - todos conhecem o Dalai Lama, mas poucos sabem que na "hierarquia" budista existem outros Lamas. O Panchen Lama é a "segunda mais importante" figura e líder espiritual budista - na tradição tibetana, o Dalai e o Panchen Lama são comparados ao "Sol" e à "Lua". Em 1995, o governo chinês invadiu o monastério onde residia o Panchen Lama e o prendeu, assim como toda a sua família. Desde então, nunca mais se teve notícias deles. O mais absurdo é que o Panchen Lama não era um "ativista" ou mesmo um líder propriamente dito - ainda. Porque em 1995, ele tinha seis anos. SEIS ANOS!!! Há muitos outros casos, mas para mim esse ilustra melhor do que qualquer outro o quanto a China está atacando e dizimando o Tibete.

Por isso vou boicotar as Olimpíadas de Pequim. Mandei cartas ao COB para que o Brasil não participasse, assim como muitos outros budistas e ativistas pro-Tibete, não só no Brasil como no mundo todo - o "The Wall Street Journal" batizou as Olimpíadas 2008 de "Olimpíadas do Genocídio". Na celebração da contagem regressiva de "um ano para as Olimpíadas", em agosto do ano passado, seis ativistas pela independência do Tibete foram presos na China após fazerem rapel na Grande Muralha abrindo uma faixa de 42 m² com a mensagem: "Um Mundo. Um Sonho. Libertem o Tibete" e o símbolo das olimpíadas. Cool! A polícia chinesa conseguiu remover e prender os ativistas, após duas horas. Não se sabe o paradeiro atual deles - isso que NENHUM deles era tibetano: eram Ingleses, Canadenses e Americanos!!

É isso aí. Não são muitas coisas que me fazem falar sério, mas essa é uma delas. Se você leu até aqui, obrigado! Prometo amanhã voltar à programação normal de abobrinhas, bossalidades gerais e outras viagens.