28/06/2011

Tommy e os Unicórnios

Tommy era um garoto norte americano de 10 anos. Seu nome foi uma homenagem à ópera rock da banda inglesa "The Who", a banda preferida de seus pais yuppies. Tommy era uma criança normal, ia a uma escola normal e era parte de uma família perfeitamente normal.

Mas ele tinha uma pequena e marcante diferença: Tommy acreditava em unicórnios. Não no sentido feminino da coisa, de desenhar unicórnios nas margens dos cadernos da escola, com laços rosa e sobrevoando arco-íris e corações. Ele os desenhava, sim, mas as versões reais, com cada detalhe. Sabia de cor a mitologia dos unicórnios, sua origem e os estudos dos gregos (que os situavam na Índia, o que depois ficou provado ser um engano grosseiro - mas pelo menos mapearam algumas espécies, como o unicórnio de chifre vermelho, preto e branco, além do tradicional puro branco), hebreus, chineses e os sábios medievais, que realmente se aprofundaram no assunto.

Seus pais não ligavam para sua estranha mania. Afinal, algumas crianças colecionavam latas, outras liam gibis. Se seu filho queria ler sobre unicórnios e estudar o assunto, para eles era perfeitamente inofensivo.

E Tommy sabia mesmo quase tudo sobre os unicórnios.

Nas férias de verão daquele ano, Tommy foi para um acampamento de férias próximo a uma reserva florestal. E foi então que aconteceu. Durante uma caminhada por um trecho particularmente afastado da floresta, Tommy viu um vulto de unicórnio. Quando gritou (assustando a todos) e contou o que viu, seu instrutor (um jovem mal saído da puberdade chamado Doug, que fazia faculdade de Sociologia) e o guia do parque (um senhor de meia idade com um farto bigode marrom com as bordas loiras de nicotina chamado Steve) lhe deram uma bronca, o chamaram de infantil e o mandaram “crescer”. Mas Tommy VIU. Mais do que ver, ele SABIA.

Naquela tarde ao voltar para seu chalé abriu prontamente seus estudos, seu caderno com resumos e os mapas que havia tirado coloridos da impressora do seu pai e fez mais algumas anotações. Após olhar novamente seus principais resumos, tendências climáticas. Fazia sentido que houvesse espécies naquela região! Como ele podia ter sido tão cego?? Mas agora que estava ali, não deixaria a oportunidade escapar. Aquela noite era de lua cheia. Seria clara e o trecho de caminhada ficava a menos de 5 quilômetros do acampamento. Era só fugir durante a noite e aproveitar a claridade para caminhar até o parque. Previu que até a manhã do dia seguinte estaria de volta, com uma história e tanto para contar. E assim fez.

Caminhou por horas, mas a excitação pelo que viu e pelo que sabia que encontraria não o deixava sentir cansaço ou diminuir o passo. Caminhava com um sorriso de orelha a orelha, quase correndo. Imaginava o que contaria para seus pais, para o mundo! Volta e meia passava a mão em sua câmera fotográfica para ter certeza de que estava ali. E ao chegar ao ponto em que tinha visto o vulto, não precisou entrar muito na floresta para ver-se cercado das criaturas mágicas. Seus olhos arregalados pareciam saltar das órbitas e seu sorriso parecia rasgar as bochechas. Ele não conseguia acreditar. A câmera balançava esquecida em seu pescoço.

- Olá, pequeno humano! Você deve acreditar muito em unicórnios para ter conseguido nos encontrar, disse o líder dos unicórnios. O garoto conseguiu apenas sacudir a cabeça que sim.
- Muito bem, muito bem. Não nos revelamos para qualquer um, mas você é realmente especial.

Ele sabia quase tudo de unicórnios. Uma das poucas coisas que não sabia era de que eram capazes de falar. “Acho que ninguém sabia disso”, pensou.

- Como prêmio, vamos levá-lo ao nosso reino mágico! Voaremos através das nuvens, e lá você conhecerá o líder dos unicórnios e o palácio de prata!, disse o unicórnio para o garoto maravilhado.

Tommy sorria. Não podia perder aquela oportunidade de jeito algum. Seus pais iriam entender, afinal ele veria algo que ninguém na história registrada viu. E aceitou, entrando mais profundamente na floresta com o grupo de belos unicórnios.

Ele nunca mais foi visto.

Tommy sabia quase tudo de unicórnios. Além da habilidade da fala, havia apenas mais uma coisa que ele não sabia. Importantíssima.

Ele não sabia que unicórnios, os belos animais mágicos que durante toda a era medieval foram símbolo de pureza e graça, são carnívoros.
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