11/01/2012

História de Ano Novo

Demorei um pouco para relatar essa história. Já estamos no dia 10 - ops, agora vejo que passou da meia-noite. Dia 11 então. Que seja.

Mas ainda estava em choque, processando o que aconteceu e ponderando o significado daquilo. Decidi contar por aqui, e quem sabe alguém que encontrar essa narrativa consiga, com maior conhecimento do que eu, me ajudar a entender.

Foi no dia 31 de Dezembro passado. Véspera de ano novo. Descemos todos para ver os fogos, pouco antes da meia noite, debaixo de uma chuva estraga-prazeres. Cada um com seu guarda-chuva na mão (no meu caso, um guarda sol fazendo a vez de seu nêmese), família toda próxima. E então alguém tocou de leve meu ombro. Olhei para o lado e vi um homem todo vestido de branco, mais baixo do que eu, barba e cabelos castanhos ondulados até os ombros e olhar pacífico.

"Olá", disse ele com um sorriso amigável e até um pouco tímido. Eu não queria muito conversar - adoro fogos - mas ainda tínhamos cerca de 10 minutos e tenho o péssimo hábito de ser polido demais, então respondi. "Quanta gente, não?", ele continuou. Novamente respondi, um pouco seco. "Você se importaria de me tirar algumas dúvidas?", insistiu. E eu realmente me importava, mas havia algo naquele olhar e sorriso bondosos, inocentes, e um tom naquela voz absolutamente serene que me compeliu a concordar.

"Eu não sou daqui," continuou o homem, "estou visitando, e fiquei muito curioso para entender o que está acontecendo. Porque está todo mundo aqui, olhando para o mar?"
"Bom" comecei a responder, já achando que era pegadinha de algum programa infame de TV, "logo mais vai ter queima de fogos para celebrar o ano novo."
"Ah. E por que tanta gente está de branco? Ou amarelo?"
"Você está brincando, né? Sei lá, cara, é tradição. Branco é paz, felicidade. Amarelo acho que é dinheiro", expliquei meia boca - eu mesmo não sei o que cada cor significa. Mas ele olhou intrigado, e aquele olhar era inocente demais. Concluí que não estava de sarro, e talvez fosse apenas alguém com problemas psicológicos ou de memória, então completei: "As pessoas acreditam que entrar no ano novo vestindo essas cores vai trazer coisas boas, compram cueca nova, calcinha nova e usam para simbolizar... sei lá, coisas novas significam alguma coisa boa também. Pra ser sincero, eu não acredito nessas coisas, mas vá lá. Se deixa as pessoas felizes..."
"Entendo. E é assim no mundo todo?"
"Ah, cada país tem suas tradições e suas crendices típicas e elas são diferentes entre si, mas sim, o mundo inteiro faz isso", mas aí já estava achando estranho demais, ele me ouvia com curiosidade demais, atentamente demais. "Mas pára com isso, cara" falei, o mais delicadamente que consegui. "Não é possível que você não saiba essas coisas, você deve ter mais de 30 anos! Você estava em algum hospital, teve algum problema?"

Então ele se apresentou: "Presencialmente aqui, 34 anos, na verdade - fiz aniversário há pouco. Pelo menos da maneira que vocês contam o tempo." E aí fui eu quem ficou confuso. "Vocês?", perguntei. "Sim. Como falei, não sou daqui.", ele disse, e então falou o nome de seu planeta de origem, a sei-lá-quantos-anos-luz da Terra. Seu nome era Jesus (pronuncia-se "Rê-ssus"), e ele passou a sussurrar segredos cósmicos, sua origem, a (real) origem da humanidade e seu destino. Conforme falava fui completamente envolvido em sua voz, em suas palavras, e minha mente foi sendo transportada por elas: vi o big bang e viajei por mundos, pela matemática, física e outras ciências como se fossem brinquedos de um desses parques itinerantes absolutamente vagabundos que pipocam por cidades pequenas e pelo litoral durante a temporada. Em sua voz, era tudo tão simples, e ao mesmo tempo perigoso e inseguro, assim - pelo menos foi assim que me senti. "Viajei" pelo que pareceram horas, talvez dias. Completou com o sentido da vida (lembro de ter torcido para ele dizer "42", mas não disse), a ciência de tudo, o segredo por trás de todas as crenças e quando vi estava de volta em meu corpo, debaixo da chuva, olhando para aquela figurinha curiosa, em choque e absolutamente certo de que se tratava de um alienígena - disso não havia dúvidas, não havia o que questionar. Mas antes que eu conseguisse ao menos terminar de processar que se tratava de um alienígena e do que isso significava, antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, ele falou, de maneira terrivelmente definitiva:

"Mas é óbvio que uma civilização que acredita que a cor da cueca e da calcinha vai trazer algum tipo de benefício em seus destinos em um banal novo ciclo ao redor do sol não está pronta para esse conhecimento ainda. Voltarei em alguns milênios", e estalou os dedos em frente ao meu nariz no exato momento em que os fogos começaram, com explosões altas e brilho intenso. Pego de surpresa, virei por um instante para os fogos e quando olhei de volta ele não estava mais lá. Na verdade, sua presença era uma mera sensação - não tinha nem mesmo certeza de que ele havia estado lá. Só que tinha certeza. Não sei explicar como exatamente. E não conseguia lembrar de nada do que ele me contou. Isso aconteceu já no momento em que estalou os dedos.

Apenas ecoam no fundo da minha mente essas últimas e definitivas palavras, em tom tão cruelmente sereno: "não está pronta para esse conhecimento". E sei que ele estava certo. Terrivelmente certo.
.

Um comentário:

Camila disse...

HAHAHAHAHAHAHA

?????????????????????????????????????????