O policial, de óculos escuros, faz voz intimidante quando o veículo com insulfilme escuro – certamente fora da especificação que a legislação permite – abre o vidro revelando uma mulher de aproximadamente 35 anos.
- Habilitação e documento do veículo, por favor.
- Sim senhor.
Pausa. Busca frenética na bolsa. O policial, experiente, faz uma rápida checagem do interior do veículo: sobre o banco do passageiro batom, blush, escova, lápis de olho. Na bolsa que a mulher revira em busca de seu documento ele nota celular, carteira, outro batom, outra carteira, papéis inidentificáveis, algumas canetas, vários recibos.
- Aqui está.
O policial apenas bate o olho.
- A senhora percebeu que sua habilitação venceu? Precisa renovar.
- Não tinha percebido. Não é aos 45 anos? Eu tenho 30.
- Senhora, a lei mudou há alguns anos.
- Não sabia.
- Desconhecimento não é desculpa para não cumprir a lei.
- É senhorita.
- Como?
- É senhorita. Você me chamou de senhora.
- Não importa. A senhora estava indo de ré no acostamento, fazendo uma manobra extremamente perigosa.
A mulher, resoluta, apenas olhava em fúria.
- Vou ter que autuá-la.
Sem alterar a expressão séria, a contraventora continua em silêncio.
- A senhora está entendendo? Diga que compreendeu.
- Não enquanto você continuar a me chamar de “senhora”. Sabe como isso é ofensivo? Eu me sinto uma velha. Já não basta minha mãe me pressionando para namorar, para achar um marido, meu irmão me enchendo a paciência porque virei titia e meu pai afugentando tudo o que é homem que eu conheço? Além do mais no emprego minhas colegas ficam falando sobre seus namorados e maridos – algumas têm até amante e eu estou sozinha...
O policial fica atônito. Mal começa a gaguejar “senhorita” quando é interrompido novamente.
- ...mas isso não é assunto de ninguém, é uma questão só minha! Ninguém tem nada a ver com isso. Por que fica todo mundo me azucrinando sobre isso? Eu não agüento mais essa pressão de todo mundo! Por que que eu não posso ficar sozinha e ser feliz? Não é verdade?
O policial continua em choque acenando com a cabeça.
- Sim, mas...
- COMO ASSIM? Você acha que eu mereço estar sozinha? Por acaso eu sou feia? Não sou atraente?
Percebendo que não importa o que fizesse ele seria de alguma maneira encurralado, o policial resolve tentar retomar controle da conversa.
- Não é isso, senhorita...
- Ah, então eu sou atraente? Você não está dizendo isso só por dizer?
- Não, claro que não. Você é muito bonita sim...
- Ah, obrigada... então... ser policial deve ser difícil, né?
- Um pouco, mas a gente vai levando...
- ADORO homem de uniforme... fica tão sexy...
- Imagina, faz parte do serviço...
Agora ele já está se sentindo novamente no controle, aliviado. Ela está sorrindo e não está falando!
- Quer meu telefone? A gente combina alguma coisa na sua folga...
O policial faz que sim com a cabeça, feliz. A mulher rasga uma página da agenda, onde já escreveu seu nome e telefone, e entrega para ele sorrindo. Engata a primeira e sai rápido, levantando pó e quase batendo em outro veículo quando entra novamente na avenida. E lá atrás o policial tenta, em vão, lembrar-se por que havia parado aquela mulher, pra começar...
4 comentários:
É um causo real? Adorei! Vou adotar tática na próxima vez que a polícia me parar.
MTO bom!!! Isso é mto lamento sem critério de mulher enlouquecida (como todas em maior ou menor grau)
Adorei tb o "tpm 365 dias por ano" , resumindo é isso!
hehehe
;o)
Opa, esqueci de dizer, Mombojó é tipo Nação Zumbi, Mundo Livre S/A... algo do estilo 'mangue beat'(se não me engano).
Eu não conheço mto na verdade, mas me apaixonei pela música "Merda". É o fino do rancor musical, emocionei.
Agora eu vou, beijo!
hahahahahahah A-D-O-R-E-I!!
Isto prova que a TPM não é um problema e sim uma poderosa arma de defesa da superioridade feminina!!!! hahahahaha
Beijos!
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