17/09/2009

"Há que se transcender qualquer tipo de preconceito." II

Esse segundo post, como eu falei, é sobre cor. Mas sabe, poderia ser sobre orientação sexual, ou sobre qualquer outra forma de discriminação: todas vêm da insegurança aliada a ignorância. Agora, falar sobre racismo/discriminação me entedia, todo mundo fala disso. Como bom sacana, vou falar mais é sobre os bem intencionados e um ponto onde acho que estão errados. Prepare-se para atirar pedras no titio OgrO.

O negócio é que da mesma forma que na questão de orgulho nacionalista, eu vejo sempre as pessoas falando ou sobre "união das raças" ou sobre a "defesa da raça" (amarela, negra, vermelha ou mesmo branca). E o meu ponto é, novamente, que a visão está limitada: a "raça" é uma só! Não tem que ter orgulho ou vergonha de ser branco, negro, mulato, pardo, amarelo, vermelho ou azul com bolinhas laranja. Não é para ter vantagem por ser "minoria", não dá para ser minoria de algo que é uma coisa só! Isso é um auto-preconceito que na verdade só vai fazer com que as pessoas continuem acreditando que a cor de sua pele é algum tipo de vantagem ou desvantagem, quando não é. E por isso sempre defendi a ajuda SOCIAL, e não RACIAL.

Aqui cabe um parênteses: talvez eu seja mais evoluído, talvez eu seja apenas utópico. Mas quem me chamar de inocente que vá tomar no cu: eu aqui não estou de forma alguma falando do mundo real, que eu sei bem como é. Estou falando de como DEVERIA ser, ou talvez do que DEVERÍAMOS almejar. E é por isso que eu falei no primeiro post que entendo o ponto de vista das autoras e concordo que é um avanço, que é legal e que é necessário. Só quero aqui, nesses dois posts que ninguém vai ler, construir em cima disso. Ok? Entãovamosemfrenteobrigado.

Não acho que é suficiente os negros terem mais orgulho da "raça". Ninguém enxerga que isso apenas aumenta a diferença entre as pessoas? Só leva as pessoas a se diferenciarem mais, quando o objetivo (pelo menos em discurso) é integrar e aproximar? Digo tudo isso porque minha experiência em negócios deixa muito claro que vamos chegar, no máximo, aonde colocamos nosso objetivo. Então uma das coisas que nos falta é realmente sermos mais ambiciosos. Sou absolutamente contra qualquer coisa que diferencie e afaste as pessoas, contra qualquer classificação: classificar as pessoas é uma maneira de padronizar o impadronizável: cor, assim como o lugar em que nascemos, não nos define (e é válido o mesmo comentário de que "sem dúvida molda nossa personalidade" e influencia nossas vidas de infinitas maneiras. Mas para algo te DEFINIR precisa dizer absolutamente tudo sobre você, e nem cor nem nacionalidade fazem isso).

Eu não fico feliz pelo espaço maior dos negros na propaganda: ficarei feliz quando um outdoor da United Colors of Benetton nem chamar mais a atenção. Não vou ficar feliz quando legalizarem o casamento gay (eu sei que mudei de assunto, mas encaixa no tema então não enche o saco): vou ficar feliz quando isso for chamado apenas de "casamento".

E, apesar de contente pelo avanço e porque você está feliz, amiga, não consigo ficar feliz como você porque temos uma protagonista negra em novela (que não é pobre, empregada ou escrava, como você bem disse). Mas vou ficar feliz, realmente feliz, quando isso for tão natural que ninguém nem pense em comentar, nem entenda por quê seria algo a comentar. Aí sim teremos chegado aonde eu quero.
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2 comentários:

lola aronovich disse...

Oi, Rodogro. Vc deixou um recado lá no meu blog falando pra eu vir aqui, e cá estou eu. Gostei do seu estilo de escrever, bem fluente, gostoso de ler. Mas discordo de algumas coisinhas neste post. No outro, sobre nacionalidades, concordo um pouco mais. Mas neste, não. Isso de dizer "ninguém tem que ter orgulho de ser de raça/cor nenhuma" é comum entre os que são privilegiados. Logo, suponho que vc, como eu, seja branco (eu sou meio amarela, olhando pra minha pele, com pintinhas vermelhas). Pra quem é da cor considerada padrão, da cor dominante, realmente não é preciso ter orgulho. Já é tudo feito pra gente mesmo. O privilégio de ser branco faz tanta parte do nosso cotidiano que a gente nem percebe. Pelo contrário, percebe como natural, quando, obviamente, não há nada de natural em cabelo liso e loiro ser considerado bonito, e cabelo crespo e preto ser considerado feio. É uma construção social. Acontece que os negros também crescem nessa mesma sociedade. Crescem ouvindo que o cabelo deles é ruim, que branco é legal, preto é feio. Não se vê representado na mídia. Um negro não é apenas negro, mas é, entre outras coisas, negro. Pra se aceitar numa sociedade extremamente racista, ele vai ter que virar o jogo, que sentir orgulho de sua raça. Isso é importante. Nossa identidade como indivíduo é construída por vários fatores. Pra mim, alguns fatores incluem ser mulher, feminista, de esquerda, gorda, ateia, hetero, casada, chocólatra, cinéfila, adoradora de animais etc etc. Não sou apenas isso, mas essas características marcam a minha personalidade.
Espero que algum dia casamento gay seja tão comum que a gente só fale de casamento, sem adjetivo no final. Espero que negros em papéis de destaque em filmes, novelas e comerciais seja tão comum que a gente nem repare mais na presença negra. Mas, pra que isso aconteça, precisamos reparar. Precisamos comentar. Abração!

RodOgrO disse...

Oi, Lola. Com um pouco de atraso, mas comentando seu comentário: eu não escrevi pensando em termos pragmáticos atuais. Como falei no texto (e obrigado pelo elogio), concordo que é um avanço, tem que gritar e pedir mais mesmo. O meu ponto é que isso ainda vai ser pouco, e como falei, eu toco no futuro utópico e não no mundo atual. Entendo sua resposta, e é claro que hoje em dia o orgulho e o reconhecimento são importantes. Mas enquanto isso for necessário ainda seremos muito involuídos - e é esse meu ponto. =)