17/12/2012

O que Connecticut diz sobre nós?

Estou pensando sobre a tragédia de Connecticut. Como pai, é basicamente o meu pior pesadelo, realizado. Inconcebível, aterrorizante, imperdoável. Todo o sofrimento daquele caso do Realengo (e outros tantos ao redor do mundo) novamente. Me recuso a dizer ou escrever aqui os nomes dos covardes responsáveis pelas tragédias. Eles não terão, pelo menos em mim, a posteridade que esperavam. É a minha maneira de puní-los.

Claro que é pouco. Ridiculamente pouco. Mas cada um lida como pode.

Já acho covarde, medíocre e fraco quem sai atirando a esmo. Mas tenho que acreditar que há um lugar especial no inferno para quem machuca crianças - de qualquer maneira (pena que não acredito em inferno. Mas acredito em carma, BITCH).

De qualquer forma, acho que a essa altura já disseram tudo que poderia ser dito sobre o caso em si. Confesso que não li ou vi quase nada - sempre que tentei, as primeiras linhas, os primeiros depoimentos, já faziam meus olhos encherem d'água. Mas estou pensando, desde que ouvi falar as primeiras coisas sobre o que aconteceu, no porquê dessas coisas acontecerem com tanta frequência em países onde teoricamente as pessoas tem mais qualidade de vida e onde têm melhor nível educacional, mais conforto. O que estou pensando aqui é que o ser humano é muito, muito arrogante.

Explico.

Achamos que evoluímos e estamos tão acima dos outros animais (tão acima que quase sempre esquecemos que somos, nós próprios, animais) por conta de nossa capacidade de comunicação e da habilidade de pensar. Na verdade o que percebo cada vez mais é que dominamos muito pouco essas habilidades. Principalmente a de pensar. Nosso organismo desenvolveu a capacidade, mas acho que ainda não a domamos - nem nos damos a oportunidade de fazê-lo, porque ainda estamos na infância desse processo: na fase de explorar nossos limites. Vamos desenvolvendo a tecnologia e relações interpessoais complexas, e jogos, e conectando o planeta inteiro quando nem ao menos podemos ficar sozinhos, refletindo, sem enlouquecer. Vemos a questão das solitárias em prisões ou qualquer situação de isolamento e a maioria das pessoas não aguenta. Claro que nem todo mundo pega uma arma, alguns simplesmente surtam.

C.Q.D

Precisamos estar ocupados e pensando em algo, ou o ato de pensar em si nos devora (nossa, empolgadaço agora para entrar em uma complexa análise de como o mito da esfinge pode representar perfeitamente essa luta introspectiva: "Decifra-me, ou devoro-te". Mas não vou. De nada.). E talvez seja por isso que esses surtos violentos aconteçam na maioria das vezes em países mais "desenvolvidos": são os locais onde as pessoas têm mais tempo livre, sós com seus pensamentos (historicamente têm menos preocupações, ao mesmo tempo em que são sociedades culturalmente mais fechadas e/ou individualistas). E aqueles com menor capacidade de se conectar (algumas pessoas o fazem através de um videogame online e já estão satisfeitas), que acabam isolando-se mais, não aguentam. E quase sempre é o caso de quem faz algo assim, os comentários são "era recluso", "parecia bonzinho, mas não o conhecia". Não. Ninguém o conhecia.

Eu provavelmente estou errado sobre essa ser a causa, talvez até sobre ser mais frequente em países desenvolvidos (e se for o caso, tenho certeza de que aparecerão diversos bons samaritanos para me xingar educadamente corrigir-me nos comentários). Estou apenas filosofando um pouco sobre o acontecido, porque eu, como tantos outros, preciso acreditar que tenha um motivo: o mais assustador é considerar a hipótese de que não haja motivo, é como olhar para o abismo, para o nada - puro desespero.

Mas quanto mais observo as pessoas, mais convicto fico de que estou certo quanto à nossa imaturidade com relação ao pensar. Quantas pessoas você conhece que:

1) Não sabem ficar sozinhas?
2) Não pensam antes de agir?
3) Estão sempre muito ocupadas, correndo de um problema para o outro, e engolem seus sentimentos? (de maneira exagerada)
4) Se metem na vida dos  outros (seja na boa, "a amigona", ou intrometida mesmo, a sogra
a fofoqueira/stalker/recalcada), ignorando a própria existência insignificante? (o famoso "macaco que não vê o próprio rabo")
5) Fazem merda mas não pensam muito sobre isso porque já estão ocupando-se fazendo outras merdas? (o famoso "tapando o sol com a peneira")

Entre as pessoas que perguntei (foi uma amostragem melhor do que as últimas pesquisas do Datafolha), 100% delas se enquadra ou conhece alguém que se enquadra em pelo menos uma dessas 5 categorias - e muitas, muitas patéticas vezes, mais de uma. Quando percebermos que somos realmente tão subdesenvolvidos, talvez possamos trabalhar em evoluir o que realmente importa: nós mesmos.

Triste.

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