Estou pensando sobre a tragédia de Connecticut. Como pai, é basicamente o meu pior pesadelo, realizado. Inconcebível, aterrorizante, imperdoável. Todo o sofrimento daquele caso do Realengo (e outros tantos ao redor do mundo) novamente. Me recuso a dizer ou escrever aqui os nomes dos covardes responsáveis pelas tragédias. Eles não terão, pelo menos em mim, a posteridade que esperavam. É a minha maneira de puní-los.
Claro que é pouco. Ridiculamente pouco. Mas cada um lida como pode.
Já acho covarde, medíocre e fraco quem sai atirando a esmo. Mas tenho que acreditar que há um lugar especial no inferno para quem machuca crianças - de qualquer maneira (pena que não acredito em inferno. Mas acredito em carma, BITCH).
De qualquer forma, acho que a essa altura já disseram tudo que poderia ser dito sobre o caso em si. Confesso que não li ou vi quase nada - sempre que tentei, as primeiras linhas, os primeiros depoimentos, já faziam meus olhos encherem d'água. Mas estou pensando, desde que ouvi falar as primeiras coisas sobre o que aconteceu, no porquê dessas coisas acontecerem com tanta frequência em países onde teoricamente as pessoas tem mais qualidade de vida e onde têm melhor nível educacional, mais conforto. O que estou pensando aqui é que o ser humano é muito, muito arrogante.
Explico.
Achamos que evoluímos e estamos tão acima dos outros animais (tão acima que quase sempre esquecemos que somos, nós próprios, animais) por conta de nossa capacidade de comunicação e da habilidade de pensar. Na verdade o que percebo cada vez mais é que dominamos muito pouco essas habilidades. Principalmente a de pensar. Nosso organismo desenvolveu a capacidade, mas acho que ainda não a domamos - nem nos damos a oportunidade de fazê-lo, porque ainda estamos na infância desse processo: na fase de explorar nossos limites. Vamos desenvolvendo a tecnologia e relações interpessoais complexas, e jogos, e conectando o planeta inteiro quando nem ao menos podemos ficar sozinhos, refletindo, sem enlouquecer. Vemos a questão das solitárias em prisões ou qualquer situação de isolamento e a maioria das pessoas não aguenta. Claro que nem todo mundo pega uma arma, alguns simplesmente surtam.
C.Q.D |
Precisamos estar ocupados e pensando em algo, ou o ato de pensar em si nos devora (nossa, empolgadaço agora para entrar em uma complexa análise de como o mito da esfinge pode representar perfeitamente essa luta introspectiva: "Decifra-me, ou devoro-te". Mas não vou. De nada.). E talvez seja por isso que esses surtos violentos aconteçam na maioria das vezes em países mais "desenvolvidos": são os locais onde as pessoas têm mais tempo livre, sós com seus pensamentos (historicamente têm menos preocupações, ao mesmo tempo em que são sociedades culturalmente mais fechadas e/ou individualistas). E aqueles com menor capacidade de se conectar (algumas pessoas o fazem através de um videogame online e já estão satisfeitas), que acabam isolando-se mais, não aguentam. E quase sempre é o caso de quem faz algo assim, os comentários são "era recluso", "parecia bonzinho, mas não o conhecia". Não. Ninguém o conhecia.
Eu provavelmente estou errado sobre essa ser a causa, talvez até sobre ser mais frequente em países desenvolvidos (e se for o caso, tenho certeza de que aparecerão diversos bons samaritanos para
Mas quanto mais observo as pessoas, mais convicto fico de que estou certo quanto à nossa imaturidade com relação ao pensar. Quantas pessoas você conhece que:
1) Não sabem ficar sozinhas?
2) Não pensam antes de agir?
3) Estão sempre muito ocupadas, correndo de um problema para o outro, e engolem seus sentimentos? (de maneira exagerada)
4) Se metem na vida dos outros (seja na boa, "a amigona", ou intrometida mesmo,
5) Fazem merda mas não pensam muito sobre isso porque já estão ocupando-se fazendo outras merdas? (o famoso "tapando o sol com a peneira")
Entre as pessoas que perguntei (foi uma amostragem melhor do que as últimas pesquisas do Datafolha), 100% delas se enquadra ou conhece alguém que se enquadra em pelo menos uma dessas 5 categorias - e muitas, muitas patéticas vezes, mais de uma. Quando percebermos que somos realmente tão subdesenvolvidos, talvez possamos trabalhar em evoluir o que realmente importa: nós mesmos.
Triste.
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