06/05/2020

Chandler

*Flashback de 1986/87*

Meu pai jogava bola todo final de semana, religiosamente. E me levava junto, para que eu jogasse com a molecada, os outros filhos da turma da pelada ali. Depois, a sagrada "cervejinha" com os amigos, enquanto eu tomava um refri e ficava escutando o bate papo deles (o resto dos garotos ia... sei lá o que ia fazer, eu nunca fui social demais e preferia ficar ali perto, para voltar logo para casa e para ouvir o papo dos adultos). 

Sempre tinha os "coroas" (na real eram mais novos do que eu sou hoje! hahahah) que ficavam se gabando de que poderiam ter sido profissionais, com alguma desculpa sobre o que tinha feito eles irem em outra direção. E eu lembrava de ficar maravilhado, pensando "nossa, que legal, estou aqui com esses quase jogadores profissionais!" (pô, dá um desconto: eu só tinha 7, 8 anos). Mais velho, ainda ouvindo as mesmas histórias, caçoava deles mentalmente enquanto ouvia e pensava no tanto que aquilo era só papo, "como podem falar tanta merda, tanta mentira, e todo mundo ainda concordar?? Se fossem bons mesmo, tinham sido profissionais"

*Corta para ano da desgraça de 2020. Dia 06 de Maio.*

Eu queria postar uma coisa no twitter hoje, mas me deu medo. Era o poeminha que escrevi esses dias, sei lá, achei legal a melancolia dele, achei que cabia em twits, e realmente me ajudou a clarear a cabeça. Mas bateu tanta insegurança que não o fiz.

Não é que eu ache que escreva mal. Também sei que não sou um grande escritor. Mas sempre gostei tanto de escrever, que a fantasia de que eu poderia ser escritor se me dedicasse, se "tivesse tempo", é uma parte grande de mim, do que sou. É reconfortante. Me dá uma crise de ansiedade real oficial pensar no que faria se fracassasse em algo que amo tanto, que tem tanta importância para mim (ler é provavelmente o hobby que mais amo na vida, sem querer ser presunçoso de maneira alguma - não arroto que só leio coisas de "alta qualidade", nem menosprezo o que outras pessoas leem. Mas confesso que já fiz isso, quando jovem. Tem que acabar o jovem). A mesma coisa com ilustração. Eu talvez tivesse algum talento, não sei, mas a real é que eu nunca fui atrás de verdade - e, nesse caso, eu inclusive tive oportunidade, e acho que é porque eu sabia que seria devastador se não desse certo.

Lembrei de Friends.

O que Chandler sempre quis fazer na vida era algo que fosse criativo (oi), mas precisava trabalhar (oi²) e arranjou um emprego em que se deu bem, mesmo sem dar muita importância (oi³) - e justamente por isso, que fazia com que não tivesse medo de arriscar, tornou-se bom naquilo. Com o tempo desenvolveu uma boa carreira, com bom salário, e foi ficando cada vez mais e mais difícil pensar em fazer qualquer outra coisa.

Eu sempre brinquei que era o Chandler por ser um loser com as mulheres e mesmo assim acabar com uma Monica e pelo senso de humor, pelo sarcasmo. Mas pqp, quando menos esperava, tá aí mais uma coisa em que posso dizer que sou como ele - claro, sem estar em uma "feel good sitcom", não tem como largar tudo para "focar na carreira que realmente gosta" (e, sendo sincero, uma grande diferença é que eu gosto bastante do que faço, me sinto bem realizado - ainda bem!) e isso ter alguma chance de dar certo.

Mesmo assim, essa fantasia é, paradoxalmente, a coisa mais real que eu tenho e não me sinto pronto ainda para abrir mão dela. Não sei por quê é tão difícil - teoricamente, eu não tenho nada a perder. Já faço algo que curto, sendo "bem sucedido" e isso é apenas um hobby, certo?

Certo?

Então por quê? Além de tudo, a máxima de que "o medo de perder tira a vontade de ganhar" (valeu, pôfexô!) dita que se eu não publico, ninguém lê, se ninguém lê, jamais vou poder tornar esse hobby minha principal atividade. Uma equação perde-perde pra coach nenhum botar defeito. Mesmo assim essa barreira mental permanece.

Qual a conclusão?

Vish, e eu lá sei*? Vim desopilar aqui justamente porque não tenho resposta alguma - e sejamos francos: dá uma olhada em tudo que postei aqui, eu por acaso tenho cara de quem tem alguma resposta pra qualquer coisa? Mal aê.
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04/05/2020

Armário (parte final)

E só para deixar registrada a conclusão da EPOPÉIA de montar um armário: terminamos hoje mesmo (bom, ontem, tecnicamente) de montar e ficou até passável. Até regulagem das dobradiças dei um jeito de fazer. Claro que o bichin é vagabundo que dá até dó, mas missão dada é missão cumprida então pronto.

PS: não teve foguetório. Eu culpo o Crivella.

PS2: eu ia postar uma foto mas, sinceramente, vendo a foto, fica ainda mais ridícula essa narrativa toda. Sério, deu vergonha, vou deixar a imaginação de quem ler isso aqui pelo menos dar alguma dignidade a toda essa provação ;P

PS3: acabei de reparar que na foto sobre a organização da mesa tem um pedaço da minha coxa. HUMMMMMMM SÉQUIÇI


Desculpem, vou tentar deixar isso aqui, como nunca sempre foi, um ambiente familiar Ó_Ò

03/05/2020

Chuva

O poeta choveu palavras
de suas pesadas nuvens de papel.
Cada gota carregando um lamento,
um amor,
um pesar,
uma alegria,
um sonho,
desejos,
que nunca existiram
E que existiram tanto

Chovia poesia
descarregando suas dores
e molhando a todos que caminham,
desavisados,
por suas linhas.
Encharcando seus cabelos,
suas roupas,
escorrendo por seus rostos,
por seus olhos,
por seus dedos.

Clarões furiosos,
de relâmpagos em sua pena,
cortando o espaço entre os versos,
lampejando a escuridão em suas mentes.
Um sobressalto efêmero tão belo
de descarga elétrica
entre céu e terra
versos e leitor.

E após sua tempestade
clareia o céu
e o escritor caminha mais leve
sentindo o sol,
as estrelas
e o cheiro de grama molhada...

02/05/2020

O armário

Finalizando de ontem, hoje preferimos curtir muito mais o dia fazendo belos nada e avançou pouco a construção do armário.  ‪¯\_(ツ)_/¯‬

E, continuando na sinceridade brutal, eu ferrei a mão ontem e fiz ainda menos, e foi a Monica que fez a parte chata de hoje (colocar as cantoneiras por dentro com a mão batendo nos cantinhos tudo para conseguir parafusar é odioso). Só coloquei as braçadeiras das portas e o painel de fundo que martelei com muita alegria aliás, imaginando a cara de c-e-r-t-o-s p-r-e-s-i-d-e-n-t-e-s. Avançamos para 93% pronto.

MAS consegui dar uma bela demonstração do por quê do meu "apelido" daqui (essa história já contei aqui), sempre cabe a ANEDOTA: ao encaixar as duas peças do armário, para a cavilha "entrar bem" (ui, danado), eu resolvi APOIAR no armário, que é bem vagabundinho diga-se de passagem, e A CARALHA QUASE RACHA O PARAFUSO DA BASE. Coloquei mais um só para garantir, mas né. Uma anta.

É isso. Quando concluir espero uma saraivada de fogos do nível do reveillon em Copacabana. 

TEJE AVISADO, CRIVÉIO  Ò_Ó

01/05/2020

Aqui é trabalho, meu filho!

Não podia ter passado de maneira melhor o Muricy Day do que... trabalhando, né? Mas em causa própria, pelo menos. Enquanto estamos ainda aqui no Rio de Janeiro, descobrimos uma caixa fechada, com um móvel para a cozinha que a sogra comprou (há mais de ano) e não abriu. "A gente monta!", alguém disse, e lá fomos nós (eu).

Abrimos a caixa e observamos a pilha de material. Se disserem que sou organizado, uns 85% das vezes é mentira, mas para projetos assim, até que não faço feio. Separei direitinho as coisas, as peças e os parafusos, pregos, dobradiças, etc, para facilitar depois. Também não chego a ter TOC, mas olha que belezura:

Dá até dó de usar, diz aí?

Mas aí conto pra vocês: o cara que escreveu as instruções não tem mãe não, viu? Lá em basicamente o móvel montado, as indicações de parafuso, e é isso - é como se o manual me olhasse, sábio como o Yoda, e dissesse: "Siga seus instintos, jovem Padawan", "confia na sua capacidade" e também "joga como Brasil", tudo de uma vez só. E lá fui eu, o Davi Luiz da casa, querendo trazer um pouco de alegria a meu povo nesse momento tão complicado, tentar montar o armário na unha.

Ah, calabok Yoda  ¬¬ 

Ok, importante dizer: eu não estava montando também 30m² de armário, tá? É só um pequeno armário de 1,72m por uns 80cm. Enfim. Só para deixar claro.

Então estou eu montando essa KITCHNETTE e decifrando o SUPERDETALHADO manual de instruções, encaixa prateleira, aperta parafuso, sobe a lateral, monta a parte superior, pega a cavilha, encaixa uma parte na outra... o tempo passa, o tempo voa e quando vi, eram mais de 9 da noite e eu suado como um estivador ao fim do dia - enfim, uma vergonha. Mas o armário estava 80% completo, eu só não ia pregar o painel do fundo essa hora porque, convenhamos, eu não sou TÃO fdp. Amanhã eu termino. Mas já está quase pronto, bela homenagem ao 1o de Maio.

É nóis, professor!
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30/04/2020

Ideias

Muitas vezes antes de começar a escrever vem um conceito geral na cabeça, e conforme começo a escrever, as ideias vão tomando forma, se encaixando, e eventualmente formando alguma coisa pelo menos coerente (nunca disse que são BOAS).

Oooutras vezes, as ideias nunca chegam a ficar coerentes, ou as acho sem graça demais, ou nonsense demais, e acabo desistindo.

E outras ainda eu anoto o conceito geral, porque a ideia parece legal, eu sinto que o tema é interessante para mim e eu me divertiria escrevendo, mas não consigo desenvolver como gostaria, não sai do lugar. Eu sei que o processo criativo é "99% transpiração e 1% inspiração", o clichê existe por um motivo, mas não sou fã da transpiração dando murro na parede: se não consigo ao menos desenvolver um pouco a ideia, já sei que quebro a cabeça e não sai nada. Já tentei bastante quando era mais jovem, mais criativo e tinha tempo livre nas mãos, não vai ser agora que não tenho nada disso que vai mudar.

Então eu sei que tenho que deixar a ideia marinando ali, reler de vez em quando, acrescentar algo, mudar aqui e ali para finalmente sair algo. E... mesmo assim às vezes não sai. É o que aconteceu no exemplo abaixo: já está há mais de 3 anos salvo o rascunho da ideia abaixo. Toda vez que leio, acho que posso gostar de escrever algo com essa ideia, mas leio, releio e no fim não sai absolutamente nada. Já que não sai nada... coloco aqui a ideia bruta. Tá aí algo que nunca tentei: publicar, e ver se sai algo então. hahahah Se não, pelo menos posso dizer que publiquei algo.

"A Poção

Um soldado, muito ferido, ao ser deixado para morrer em uma batalha encontra uma bruxa com uma poção mágica que salva sua vida recuperando todos os ferimentos, mas que encurta sua vida em um ano. Um solitário que só conhece a guerra, volta às batalhas e continua lutando e se ferindo e se curando magicamente. Eventualmente se torna o maior guerreiro do mundo conhecido. Porém, quando está colhendo os frutos de suas glórias e desfrutando de riquezas e conforto, e finalmente encontra o amor de sua vida e se apaixona, percebe que usou a poção um número tão grande de vezes que irá morrer a qualquer momento."

Eu vejo a possibilidade de discutir solidão, imediatismo e até mesmo nossa cultura workaholic, de deixar a vida passar sem dar atenção para as coisas realmente importantes - mas não vejo a história. Quem sabe um dia?

29/04/2020

Jornada - O Início

As montanhas o observavam de longe, guiando seu caminho. Parado à beira da pequena estrada de terra, sentindo o cheiro do chão seco levantado pela brisa, ele apenas olhava as formas sedutoras ao longe, compelido a encontrá-las.

A escalada era apenas parte de seu objetivo, a adrenalina que viria com ela um prazer adicional a sua jornada: as lendas que ouviu em sua peregrinação atestavam que, escondido nas montanhas, vivia um velho e sábio eremita que saberia segredos incríveis sobre o universo e levaria qualquer um que se tornasse seu aprendiz à iluminação. Mesmo naquele momento, ainda tão distante, mirava as montanhas e sentia uma presença tranquilizante olhando de volta. Reconheceu, pela primeira vez em sua vida, algo que poderia definir como destino.

Deu o primeiro passo, observando à sua volta enquanto as folhas das árvores, agitadas pelo vento, pareciam despedir-se. Como acontece muitas vezes nesses casos, a pequena estrada iniciava em um sentido que o levava para mais longe de seu destino, até que - sinuosa e bela - suas volumosas curvas endireitaram-se novamente à visão das montanhas ao longe. Foram cerca de três horas entre curvas e a mata fechando-se aos poucos conforme chegava ao fim dessa primeira etapa, com morros aos lados apertando o caminho e a terra no chão mais úmida, chegando finalmente a uma pequenina cascata que saía de uma rachadura na parede de pedras e vegetação à sua frente. Com pouco esforço, e não sem antes parar para mergulhar seu rosto e beber da água fresca e cristalina que jorrava, tateou o barro viscoso com mãos firmes, decididas e subiu os cerca de quatro metros até novamente seguir seu caminho, agora sem uma estrada à sua frente, apenas os montes dando-lhe direção. O grande descampado à sua frente ondulava gentil e convidativo antes de chegar ao pé das montanhas. Tirou suas botas e caminhou lentamente, aproveitando a sensação do relvado sob sua pele, com o sol atravessando o céu azulado conforme o dia avançava.

Quando anoiteceu, deitou-se em um pequeno barranco que formava uma depressão aconchegante no gramado e observou as estrelas, que brilhavam como nunca havia podido ver nas grandes cidades em que estava acostumado a viver, e adormeceu lembrando-se de um poema de Mario Quintana:


"Se as coisas são inatingíveis, ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A beleza distante das estrelas!"

Sonhou pela primeira vez em muitos anos: um sonho leve, claro, colorido e cheio de luz.