Lembrei de algumas esses dias, mas achei por bem (considerando minha profissão), começar com uma história executiva, uma belíssima história que invoca o melhor das pessoas humanas, da relação com o próximo, e da IMBECILIDADE latente nos seres pensantes (a raça humana deveria ser exterminada! Já disse isso? Pois é, devia).
Primavera de 2002, os pássaros cantavam, as flores desabrochavam, as mulheres davam... beijos em seus namorados (a-há! Pensou besteira, hein?!) e toda aquela papagaiada. Enfim, após umas 3 dinâmicas e entrevistas eu iniciava meu primeiro estágio. Na DuPont, uma multinacional, gigante, imponente, poderosa, com gosto de framboesa. Enfim, deu pra sacar a encrenca, né? Pois é: lá fui eu, pássaros cantando e tudo, fazer o exame médico admissional. Chego à “enfermaria” da própria empresa e sou atendido por uma menina muito simpática, também estagiária lá, e que mais tarde eu fui descobrir
Lá pelas tantas, quando já estava acabando com a minha papelada, sai do “exame médico” um cara de uns quarenta-e-lá-vai-o-trem anos. Recebe a mesma prancheta, as mesmas instruções e senta duas cadeiras para a minha esquerda.
"Oi!", digo eu.
"Oi.", diz ele.
"Você também tá começando hoje?"
"Não, não. Eu já trabalho aqui há um tempinho... uns 20 anos." (sorriso)
"Ah, legal" (sorriso)
Eu termino e entrego para a menina simpática os papéis, a prancheta e a caneta e volto a aguardar. Dali uns 5 minutos, o senhor de uns quarenta-e-lá-vai-o-trem anos faz o mesmo – porém fica com a prancheta. Momento de decisão: ficar quieto ou tirar um sarro? Bom, considerando que eu tinha ACABADO de entrar na empresa e não conhecia ninguém, o bom senso dita que eu ficasse quieto, certo? Então é claro que eu viro para o tiozinho e digo, em tom jocoso:
“Ôw, a prancheta não é cortesia, não... é melhor devolver pra mocinha, senão ela liga pra polícia!”
Ele me dá um sorriso amarelo e uma risadinha mais amarela ainda, entrega a prancheta e sai. Só então eu noto que a menina muito simpática está completamente pálida, branquinha da silva. Entããããão vamos analisar nossos participantes:
- uma besta humana metida a tirar sarro, com muito pouca noção e mais bobo que o normal por causa da alegria de conseguir um estágio; e
- um senhor de uns quarenta-e-lá-vai-o-trem anos, que desde que entrou na enfermaria é tratado por “senhor”, mas eu sou idiota demais para perceber.
Não é uma oportunidade fantástica para tirar um sarro? (ouvi alguém aí dizendo “NÃO!!! Cala a boca, infeliz” ? Pois é, lá ninguém fez isso). Quando ele sai, a menina muito simpática diz para mim:
“Cara!!! Não acredito que você tirou sarro dele!”
“Ué... por quê? Só tava brincando”
“Você não sabe quem ele é???”
“Lógico que não – acabei de entrar na empresa!”
“Pois é, talvez faça o exame admissional e o demissional no mesmo dia: aquele é o Vice-Presidente da DuPont!!!”
“...”
E foi assim que começou meu primeiro estágio, um pesadelo que durou quase dois anos! Com o pé direito (no saco). =)
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5 comentários:
Tua história me fez lembrar do dia em que eu barrei o vice-governador do RS na entrada de uma coletiva de imprensa do Fórum Social Mundial.
Quebra de protocolos, a gente? Imagiiiina!
Suas histórias me fazem me sentir muito normal. Obrigada.
Já te contaram porque a gente tem duas orelhas e uma boca? não né?! rs
Realmente, Rodrigo!
Como diz o pessoal do Vida Ordinária: "Magneto estava certo!".
Beijos e sucesso!!!
@lioness: hahahaha De nada... acho.
@Ventania: Pois é, aprendi isso depois dessa (e outras). Mais ou menos.
@Sabrina Mix: ? ;)
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