27/04/2020

Dos rituais

Em plena pandemia, há muitas coisas que sacrificamos. É necessário, é o que estamos vivendo, é muito compreensível e - vamos ser realistas - qualquer um que respeite minimamente a ciência e tem a possibilidade (e o privilégio) de fazê-lo, está fazendo.

Mas há alguns rituais, alguns costumes ancestrais, que são mais fortes que a razão. Que são necessários. Que falam com um lugar primitivo de nossas almas de maneira poderosa. Despedir-nos das pessoas que mais amamos é um deles. Talvez um dos principais. É conforto para os mais próximos ver a todos reunidos em demonstração de amor e de respeito. É sentimento de sociedade, de união, de civilização.

Sim, de civilização.

Há uma teoria antropológica que propõe que o principal sinal de existência de civilização não foi o surgimento de cidades, mas sim como essas comunidades lidavam com seus mortos.

E é por isso que, mesmo em um momento como o atual, entramos em um carro, os 4, e viemos para o RJ, de onde escrevo nesse momento, nos despedir do meu sogro, Sérgio, que descansou, após bastante luta. Um cara incrível, que merecia todas as reverências possíveis e a presença da grande família que o ama tanto. Mas não se pode ter tudo, e infelizmente (mas necessário) não pudemos ter a aglomeração que ele deveria ter em sua homenagem. Éramos poucos, os mais próximos (e que puderam vir). Outros, conectados - bizarra e comicamente, mas, estranhamente, algo de belo também - por videoconferência.

E assim nos despedimos, cumprindo o rito ancestral que há mais de 100.000 anos o ser humano pratica. Acalmando a alma, apoiando quem fica. Tchau, Sergião. Seu legado fica. S2

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