08/07/2009

As coisas já foram mais legais

Já repararam que as coisas que deveriam ser divertidas, entretenimento, estão cada vez mais sem graça? Ou sou só eu?

Assistir futebol ficou chato: as partidas estão monótonas, previsíveis, quase robóticas (retiro o que disse. As partidas robóticas, no videogame, são muitas vezes mais emocionantes que as partidas reais). Acho que é unânime que nossa Seleção, por exemplo, faz corpo mole.

Ir ao circo não é mais suficiente, tem que ir ao Circ du Soleil.

Cinema, então... ótimo para acompanhar SEQÜÊNCIAS, REMAKES e adaptações de quadrinhos, tudo determinado por executivos que querem blockbusters para engrossar o bônus. Até filminho pornô estragaram, fazendo pornô da Gretchen, da Rita Cadillac.

Escrever não é mais uma questão de passar uma mensagem/idéia, de se expressar, de escrever com tesão. O que vale é escrever um best seller, nem que seja de mantras reciclados de auto-ajuda, e encher o rabo de dinheiro. A poesia praticamente morreu.

Vou me abster de falar de pintura e escultura por dois motivos. Um: não tenho conhecimento suficiente para debater com alguém que vai encher o meu saco dizendo que Miró é ducaralho (quando a filhinha de dois anos de um amigo meu faz igual); e dois: desde antes do cubismo que eu já não considero nada "pintura". Bom, admito que o cara que reformou meu apartamento fez uma bela pintura.


Pô, diz aí que não é um moleque e seu cachorro pintados
por um aluninho do jardim da infância?

Na música, hoje são raros - se é que existem - os artistas e bandas que não nascem ou se tornam absoluta e explicitamente comerciais (oi, boy bands! Chalibráu!).

Acabaram as empresas apaixonadas por seu negócio, e praticamente acabaram os profissionais que fazem as coisas por paixão: é tudo CARREIRA, dinheiro, margem, lucro.

Sabe, eu particularmente culpo a profissionalização exagerada: hoje o pessoal é profissional DEMAIS. Liderando o movimento é claro que vem os EUA, onde existe até concurso de Miss Recém-Nascida e campeonato de basquete da liga "2 a 5 anos" é televisionado. Mas até mesmo os tradicionais "rebeldes" se profissionalizaram: skatistas, tatuadores (oi, Miami Ink), Punks, comunistas, motociclistas, roqueiros. Tudo profissional, tudo levado a sério demais. Patrocinadores, campeonatos, X-Games, MTV.

Profissionais de futebol, com jogadores mais preocupados com a imagem do que com o jogo, agentes mais preocupados com contratos de patrocínio do que o bem estar do atleta, os times mais preocupados com a venda de camisas, bonés, meia, ringtones e camisinhas do clube do que com o desempenho do time. Para ser jogador, você tem que estar esperto, arranjar agente, ir para o Milan. E isso é verdadeiro em qualquer esporte, com (cada vez mais raras) exceções. O artista de rua não quer mais ter um belo espetáculo, mas transformá-lo em empresa multinacional (não que os shows do Circ du Soleil não sejam realmente lindos, por favor. Tenho senso de ridículo). Em diversas modalidades de arte é mais importante chocar do que ter conteúdo, mensagem. E porra, para que fazer música se posso ser um American Idol e estudar se posso ser a Brazilian's Next Top Model??? Aliás, tudo TÃO profissional que tem nerd sendo pago para jogar videogame!! Empresas patrocinando mané que manda bem no Warcraft, no Winning Eleven, essa merda toda.

Eu não estou me excluindo de nada disso, é apenas uma observação. Eu teria que ser muito hipócrita para criticar, considerando que eu mesmo sou um puta workaholic. Não estou julgando ou dizendo o que é certo e o que é errado mas porra, isso é errado. Ganhar dinheiro todo mundo quer, inclusive eu, e se der pra ficar milionário melhor ainda. Discordo de comprometer as coisas em que a gente acredita para chegar lá, e jamais conseguiria fazer isso, mas sei que o mundo real é assim e foda-se - e temos que viver no mundo real, não adianta fingir que as coisas não são assim. Só não tenho que gostar disso.

Uma coisa é certa: isso deixou as coisas muito mais sem graça.
.

5 comentários:

B. disse...

pois é... por mim eu seria fotógrafa e viveria feliz. Mas temos que pagar aluguel, sacumé...

Angela Natel disse...

Concordo plenamente. Todos precisam de dinheiro, mas hoje em dia isso virou desculpa para se vender a própria alma, os sonhos, o senso, a consciência.
Nem tenho vontade de assistir TV.

ANNE KARINE DE LIMA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ANNE KARINE DE LIMA disse...

Lembrei que vi um vídeo de um cara conhecido, mascando um chiclete por uns 6 minutos ou mais e depois colocar numa caixinha para leiloar, quem dá mais? O dinheiro seria doado pra alguma instituição carente. cAra! é apelação!
Putz eu nem acreditei, mas tem gente que compra mesmo. Vale tudo, até fazer um papel de idiota e mascar chiclete pra um outra porção de idiota ups! que vão comprar o chiclete do cara com direito a um pouquinho de saliva e bactérias.
Por acaso eu também fui idiota ao ver este vídeo. fazer o quê?
Oo'
Zullive!

ANNE KARINE DE LIMA disse...

A verdade é que a vida é cinza.
Nós é que pintamos ela.

:) (profundo isto...rs )