07/01/2015

5:15 - parte 2

Outro 7 de Janeiro, um dia de festa muito especial! Nosso moleque, o terremoto, o ruivinho que vai de fofo a peste em 4.7 segundos e que quando liga o turbo vai à manha-supersônica ainda mais rápido, faz dois anos! E o maior susto que já tomei na minha vida também, e como comentei aqui, vou contar a parte final (a meta de 2 posts por ano por aqui continua firme e forte heheh).

Parei na parte em que você havia acabado de nascer, vivinho da silva, chorando forte (no que você é bom até hoje, tendo até se aprimorado bastante), a maior alegria que poderíamos ter. Eu tinha voltado do interfone na esperança de achar o vizinho médico. E o que fazer agora que você estava ali, nascido?

"Liga para o meu médico."

Fui correndo pegar o telefone, sendo imediatamente chamado de volta pela sua mãe já que eu, err, esqueci você chorando no chão ao invés de entregá-lo a ela. Ops! Momento “menas pai” da manhã. Erro corrigido, cobri você com uma fralda de pano e fui ligar para o médico. Foi aí que a mamãe teve a genial idéia de perguntar que horas eram: 5:15am (e era exatamente isso, nem arredondei nem nada). Que presença de espírito diante da situação, caraca - eu estava pensando em milhões de coisas, mas essa não era uma delas. A conversa com o médico seguiu-se mais ou menos assim:

"Bom dia, Dr., é o Rodrigo, marido da Mônica. O Rafael nasceu!"
"Ok, a mala já está pronta? Nos encontramos no Hospital, estou a caminho."
"Não, Dr, o sr não entendeu... ele já nasceu, está aqui no colo dela! O que eu faço?"
"Ah, ele já nasceu? Olha, então o principal agora é cortar o cordão umbilical, é muito importante."
"Ahan, ok, dr, mas COMO eu faço isso? Esterilizo uma faca, uma tesoura? Pro sr isso é simples, Dr, mas eu sou novo nisso!", eu disse, tentando ser simpático por trás do pânico.
"Isso, isso, esteriliza uma tesoura, dá um nó de cada lado do cordão umbilical e depois corta no meio. Como já nasceu eu encontro vocês no hospital só mais tarde."
"Ok, certo!"

Enquanto isso, perguntei a sua mãe para quem mais ligar e ela sugeriu meus pais e minha irmã primeiro (alguém teria que vir ajudar a gente, afinal!) e depois os pais dela. Acho que a conversa com sua vovó Rachel foi a mais engraçada:

"Rachel, é o Rodrigo. Nasceu o Rafael!"
"Que bom! Vocês estão no hospital?"
"Não"
"Como assim não?"
"Não deu tempo. Ele nasceu em casa!"
* 25 minutos de silêncio *
"Como assim?"
"É, não deu tempo de chegar no hospital e ele nasceu aqui em casa. Mas não se preocupa, ele está muito bem e Mônica também."
"...
...
...
...Como assim?"

Desligamos e fui correndo à cozinha colocar uma tesoura no fogo, tudo parecendo tão simples e direto até ali. Mas voltei até vocês e então me deparei com um pequeno detalhe: o cordão é uma linha contínua entre vocês, mais grosso que meu dedão, e principalmente sem pontas em que eu pudesse dar nó.

Oh-oh.

Fiquei observando aquela cena pelo que pareceu uma eternidade, pensando em como caráleos alados eu poderia dar nó naquilo, uma vez que não sou nem marinheiro, nem escoteiro.


E não tinha um desses à mão para referência rápida.
Amadorismo, CLARO.

Fiquei ali amaldiçoando o médico mentalmente por segundos que pareceram minutos (ou minutos que pareceram horas, não sei) - FDP deve ter aprendido isso no primeiro dia de aula ("Bem vindos à faculdade de medicina! Tudo começa com um parto, e é assim."), mas eu sou formado em propaganda e marketing, ou seja, naquele momento eu era mais qualificado para a campanha de lançamento do bebê no mercado do que pra cortar o cordão umbilical.

Aí tive uma idéia "brilhante": cortaria o cordão ao meio e rapidamente, agora que teria duas benditas pontas nas mãos, daria um nó em cada lado como orientado. Não parecia ser exatamente o jeito certo mas diante das circunstâncias... (e não me ocorreu, com tanta adrenalina e nervosismo, tentar lembrar do nascimento da sua irmã) A indecisão demorou mais alguns momentos, e então resolvi: tinha que ser feito. Preparei a tesoura e... a campainha tocou. O vizinho médico! Corri (de novo. Perdi uns 5 kgs essa noite e o Nike Run contou 65km) para abrir a porta. O médico estava pálido com uma MALA de remédios.

"O que houve???", perguntou, alarmado.
"Minha mulher está ali no quarto, o bebê nasceu!"
"Ah, é nascimento, não morte?", perguntou ele, que descobri ali ser cardiologista e que achou que alguém estava morrendo, "Então é tranquilo", completou. Eu não estava achando até aquele momento, né, mas o especialista ali era ele.

Levei-o até o quarto, expliquei em que etapa do processo, descobri que o nome dele é Augusto (Dr. Augusto, claro) estávamos e ele deu a genial solução: um barbante para amarrar o cordão, fazendo um torniquete em cada lado. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh táaaaaa... porra, por que raios o médico dela não disse isso pra começar? Achei um par de cadarços novos que estavam guardados (confesso que por um momento a tentação de sacrificar um velho passou pela minha cabeça, mas aí lembrei da questão de higiene) e pronto: cordão cortado. E nisso toca a campainha, mas eu não tinha convidado mais ninguém para a festa. wtf?

"Deve ser minha mulher, Rosane, eu pedi a ela para subir também", explicou o médico, "E ela vai poder ajudar, ela é enfermeira obstétrica." Concordei que ajudaria um pouco, né, e agradeci nosso anjo da guarda mentalmente. Ela logo nos ajudou a embrulhar melhor o bebê ("Bebês perdem muito calor logo que nascem, precisa embrulhar mais - vocês têm um cobertor?") e a começar a nos arrumar para sairmos.

Durante toda essa correria, bagunça, gritaria, sua irmã dormindo. :)

Finalmente fomos para o hospital, com mais alguma ajuda: a Rosane se ofereceu para ir junto e levar você no colo até lá. Dr. Augusto pegou a sua irmã já que eu havia descido para manobrar o carro, e ela "acordou" no colo dele:

"Mamãe, o que tá acontecendo?", ela disse, morrendo de soninho.
"Filha, o irmão nasceu! A gente está indo para o hospital."
Sem nem reparar que tinha dois estranhos ali (já que tínhamos mudado não fazia muito tempo e ainda não conhecíamos os vizinhos direito), o único comentário dela foi:
"Oi, neném." e encostou a cabeça de novo no Dr. Augusto quietinha. Até hoje ela conta a história como sendo o vovô Sérgio que a pegou - e a confusãozinha sonada dela até faz sentido, porque ambos são altos, magros e grisalhos (mesmo o Dr. Augusto sendo bem mais novo que o vovô).

Chegamos ao hospital sem problemas e logo atenderam a mamãe e você, pesaram, mediram e confirmaram que você era super saudável e forte. E ficou famoso no hospital! Vieram enfermeiras de outras sessões e perguntavam: "Foi esse aí que nasceu em casa?"

Logo a tia Dri chegou, foi a primeira, e ficou com o papai e sua irmã aguardando e ajudando. Você já era cabeludo e logo deu para notar que era ruivo que nem o papai. Foi engraçado que, como você nasceu em um "ambiente externo contaminado", você não podia ir para o berçário com as outras crianças e ficou o tempo todo com a gente (que era o que a gente queria mesmo). E, óbvio, a família inteira ficou fascinada com o jeito espetacular que você veio ao mundo - mesmo que tenha certamente me custado alguns anos de vida e vários cabelos brancos...
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2 comentários:

Tayza Carvalhaes disse...

Sempre me emociono com essa história. É um privilégio conhecer pessoas bacanas e com histórias de vida tão lindas assim. Abraços!

RodOgrO disse...

Oi, Tá!! O privilégio é nosso de ter uma amiga como você! :)